segunda-feira, 11 de junho de 2007

ODE À VILA CRUZEIRO














ODE À VILA CRUZEIRO



por Paulo da Vida Athos


Meus gritos despertam as noites,

ferem os tímpanos das madrugadas,

atravessam ruas e cidades,

violentam fronteiras,

misturam-se aos berros de dor,

aos sussurros e gemidos de amor,

ao silêncio que acompanha a lágrima que corre na face da vida,

antes de se perder no nada.


Meu grito é mais que um grito!


É lamento de cada esperança morta,

mas também vagido.


Se incomodar, pouco importa!

Vai além das janelas, não respeita portas

trancadas pelo cinismo, pelo egoísmo,

pela apatia geral.


Meu grito é irreprimível.


Sai de mim

mas pertence aos bêbados caídos em cada beco,

às putas e decaídas,

aos meninos que moram na esquina,

às vítimas de cada chacina,

à legião excluída do banquete da vida.


Meu grito é a rajada mortal,

é o som da bala perdida,

o olhar de incredulidade,

da dor surda, dor aguda,

da mãe que perde a vida,

por ela criada, por ela parida,

no momento exato e fatal

quando lhe falta o chão,

quando lhe roubam o ar,

e ainda tem que escutar...

que tudo isso é normal.


Meu grito é mais que grito!


É uivo de cão errante, malsão,

de animal em extinção,

que vai por aí sem se importar

se está na contramão,

se o vão pegar no contrapé,

se a caminhada é curta ou distante,

se o caminho existe ou se é só sonho

de alma delirante.


Meu grito é vira-lata

e será ouvido em cada esquina,

invadirá janelas abertas,

deixará certezas incertas,

converterá alguns e seguirá caminho.


Meu grito é dor de pranto,

que teimam fingir não ouvir,

que vem de escuras vielas,

dos cruzeiros, das favelas,

dos meninos em volta de velas,

sem amanhã para despertar...


Meu grito é grito demente!

Eu como ele, não mudo!

Sou desses seres inválidos para a covardia.

Dizem-me louco, digo-os surdos.




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2 comentários:

Anônimo disse...

Paulão! Parabéns pela Ode! De primeiríssima linha! Continue escrevendo! Abraço!

Paulo da Vida Athos disse...

Agradeço suas palavras.

Mas nada me deixará tão agradecido quanto o fim dessa barbárie...

Grande abraço.

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