quinta-feira, 20 de setembro de 2007

POLICÍCIA MILITAR: 90% CORRUPTA, DIZ SARGENTO.


Depoimento: corrupção na PM é do jeito que mostra 'Tropa de Elite'




Luiz Filipe Barboza - O Globo Online


RIO - É tudo verdade no filme 'Tropa de Elite', de José Padilha ? A Polícia Militar do Rio de Janeiro, retratada como uma corporação atolada em corrupção e com recursos escassos na guerra contra o tráfico de drogas, é a mesma da vida real? Para o sargento LML, 45 anos, dos quais a metade dedicada à PM, com experiência em cursos de operações especiais e no Batalhão de Choque, sim. Ficção inspirada nos relatos de policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) da PM, o filme estará pela primeira vez na tela do cinema, nesta quinta-feira, no FestRio, depois de se tornar um fenômeno da pirataria. Para o público geral que não assitiu à versão pirateada - e para quem assistiu também - a estréia será no dia 12 de outubro. O que está ali é fiel à realidade, garante o sargento. ( O Bope mostrado em 'Tropa de elite' - com policiais que torturam, executam criminosos e invadem casas em favelas, em nome da lei - é a polícia que você quer? Por quê? )

- A grande maioria dos policiais se corrompe. A banda podre predomina - diz o PM, que, apesar dos pesares, se orgulha da instituição, embora confesse que não deixaria o filho adolescente seguir a profissão. - Ninguém consegue mudar o sistema. O cara que for sério e tentar vai acabar afastado ou morto. E o que é pior: morto por "fogo amigo". (Saiba mais: Operações Tingüí, Gladiador e Duas Caras combatem banda podre )

" O tráfico é uma firma. Quem chega lá para se empregar, se emprega. E a firma cresceu tanto que hoje recusa mão-de-obra. "

Em meio aos debates provocados pelo filme, O GLOBO ONLINE foi ouvir um personagem da vida real para repercutir as frases mais contundentes e polêmicas da obra de Padilha. PM de carne e osso, que por razões óbvias preserva a identidade na reportagem, o sargento mostra acidez e grande dose de desesperança ao comentar as sentenças do filme. Do filme, só, não. Da vida de um policial.

Tropa de Elite: "Nesta cidade, todo policial tem que escolher: ou se corrompe, ou se omite, ou vai para a guerra".

Sargento:

- Concordo. E a maioria escolhe corromper-se. Posso afirmar que 90% se corrompem. O arrêgo (propina recebida do crime), por exemplo: é difícil existir o arrêgo sem o conhecimento do oficial que comanda o batalhão. O PM arruma o dele, o do DPO (posto de policiamento na favela) e o do batalhão. Existe o arrêgo do tráfico, do jogo do bicho, das termas, das kombis, das maquininhas de caça-níqueis. E isso é sempre fechado com conhecimento do coronel, do major, do capitão.

Tropa de Elite: "Na polícia, o sistema protege o corrupto"

- Protege, sim. A corrupção é geral, é assim que funciona. Há corporativismo entre os oficiais, eles se protegem. A corregedoria, por que não investiga os oficiais corruptos? Hoje não vejo luz no fim do túnel. A corrupção na polícia é um mal sem solução. ( E você? Já deu dinheiro a um policial? )

Tropa de Elite: "Batalhões da PM foram abandonados pela política de segurança pública. Sem a corrupção, sem o jeitinho brasileiro, a polícia pára, por falta de manutenção"

- É verdade. Policial tem que ir atrás de peça para viatura, pedindo ao comerciante do bairro. Em troca, claro, o comerciante pede a viatura na porta do estabelecimento. E o PM faz segurança particular fardado, no horário em que teria que proteger a sociedade. (Leia no Extra: Nas ruas, carro virando sucata. No pátio, frota parada. )

Tropa de Elite: "A gente vem aqui para desfazer a merda que você faz; é você que financia esta merda" (trecho da fala do personagem Capitão Nascimento, do Bope, para um consumidor de droga de classe média flagrado na favela)

- É o viciado que financia o tráfico mesmo. E o perfil do viciado do asfalto é este mesmo do filme: o playboizinho que bota ONG por trás para subir o morro e consumir ou comprar droga para revender na faculdade ou no apartamento. Associação de moradores é outro antro, não tem uma que não seja controlada pelo tráfico. O tráfico é uma firma. Quem chega lá para se empregar, se emprega. E a firma cresceu tanto que hoje recusa mão-de-obra. Tem gente nos morros que quer trabalhar para o tráfico e não consegue vaga. Muito trabalhador trabalha durante o dia na sociedade e, à noite, faz "endolação" (preparo da maconha ou da cocaína para o consumo). (Leia mais: Leitores debatem se há hipocrisia nos movimentos pela paz )

Tropa de Elite: "Todo mundo sabe que os canas entram na favela batendo. Os caras, além de corruptos, são covardes"

Cena do filme Tropa de elite / Foto: Divulgação

- Não são todos assim. A maioria, que é da banda podre, sobe o morro para roubar e pegar o arrêgo. Mas tem também os bons policiais, que vão cumprir a lei. O grande covarde, na verdade, é o bandido, que ocupa o espaço vazio deixado pelo Estado e impõe aquele tipo de vida violenta aos moradores. O policial sobe o morro e é muitas vezes recebido a tiros.

Tropa de Elite: "É mais fácil mudar o local do crime do que prender os criminosos. Tem muito comandante safado que reduz a criminalidade jogando defunto na área de outros batalhões"

- Isso é assim até hoje. Se ficar muita estatística de crime na área do batalhão, o comandante cai. E ele não vai querer perder a boquinha dele.

Tropa de Elite: "Se o Rio dependesse só da polícia convencional, os traficantes já teriam tomado a cidade faz tempo. É por isso que existe o Bope".

- Essa é uma avaliação errada. O Bope é muito bem treinado, mas veja o efetivo deles (400 homens). Já vi muita operação em que o Bope precisou do batalhão convencional para entrar na favela. Tem hora que precisa de reforço. Há homens de valor também entre os policiais convencionais.

Tropa de Elite: "Na teoria, o Bope faz parte da PM. Na prática, é uma polícia completamente diferente"

- "Quanto a treinamento, sim. Não há mesmo no mundo, como fala o filme, policial mais bem preparado do que o do Bope. Mas aquela história de tropa incorruptível é balela. Tanto agora quanto no tempo em que o efetivo era menor. Há uns dois ou três anos houve uma operação no Morro dos Macacos (Vila Isabel) e pegaram um 'caveira' negociando com bandido para soltar o traficante Scooby Doo. Há pouco, na Operação Gladiador, foi preso o major Vasconcelos, que também era 'caveira'."

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