quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Assassinar terroristas exilados não derrotará o Hamas


"Assassinar terroristas exilados não derrotará o Hamas"

Assassinar terroristas exilados não derrotará o Hamas, e impedir uma troca de prisioneiros não terá um impacto de longo termo na balança do poder dos territórios palestinos. As operações a la filmes de James Bond, que a mídia estrangeira atribui a Israel faz com que este país pareça um vizinho assassino e desvia a atenção para o espectro do apartheid que bate à porta. O artigo é de Akiva Eldar, do Haaretz.

Se Mahmoud al-Mabhouh estivesse preso numa prisão israelense, em vez de estrelando postumamente na mídia internacional, seu nome estaria na lista de prisioneiros que o Hamas exige em troca de Gilad Shalit. Ele quase com certeza seria um dos “arqui-terroristas” que Israel, para sua própria segurança, insiste em manter distante dos territórios palestinos depois de libertados, uma condição que o Hamas se recusa a aceitar. No ápice do imbróglio está o governo estadunidense, opondo-se vigorosamente à troca de prisioneiros, com base no argumento de que o sucesso do Hamas iria reforçar o prestígio da organização e lançar luz sobre a impotência do Fatah na direção da Autoridade Palestina.

Ainda assim, ambos os argumentos são totalmente enganosos, e deixam a descoberto a obtusidade e miopia prevalentes tanto em Jerusalem como em Washington. O manejo desenfreado e irresponsável de um soldado em apuros, enfraquecendo-se no cativeiro, é característico da política, ou da falta dela, para o destino de Israel como estado judeu e democrático.

O caso Mabbouh desligou o botão do argumento de que Israel estará mais seguro se os terroristas libertados forem exilados em Damasco, como parte de um acordo pela troca por Shalit. O imenso esforço feito para assassinar Mabbouh em Dubai e os riscos diplomáticos e de segurança – ambos certamente calculados – assumidos por quem quer que tenha sido são indicações do estado das coisas no mundo do terrorismo. Ocorre de o exílio poder ser uma estufa ideal para criar arqui-terroristas.

O Primeiro Ministro Benjamin Netanyahu, que deu ok para tentativa mal sucedida de matar Khaled Meshal em Amã, em 1997, deve ter entendido agora que é melhor manter à mão os mais perigosos e sofisticados prisioneiros que Israel liberta da prisão. Desta maneira, é mais fácil manter o controle sobre os seus rastros. Se um irmão de Mabbouh em voltando para casa depois de uma temporada na prisão fosse vingar essas más ações, nenhum embaixador israelense seria chamado a dar explicações no dia seguinte à sua eliminação.

Netanyahu tem consciência de que o Hamas tem rejeitado deportações do exterior. Não há chance de que essa posição venha a mudar num acordo futuro. A única explicação para a insistência de Israel em reforçar as fileiras das gangues de Meshal em Damasco com fome de vingança no exílio é que o primeiro ministro não quer pagar o preço pelo acordo.

A etiqueta do preço do maior acordo com os palestinos também se conhece há muito tempo. Ela foi marcada nos parâmetros de Clinton em 2000, na iniciativa árabe de paz em 2002, no mapa do caminho em 2003 e na declaração de Annapolis, em 2007. Todas essas tentativas propõem uma paz ampla, em troca do recuo às fronteiras de 1967, com no mínimo ajustes recíprocos de fronteiras e uma solução acordada para o problema dos refugiados. Na verdade, a tarifa tem sido a mesma desde a declaração da criação de um estado palestino independente pela OLP, em 1988.

Netanyahu também afirma que tem aceitado o princípio dos dois estados para dois povos. Mas depois de aceitá-lo, ele imediatamente se apressa para apresentar condições impossíveis. Ele exigiu que os palestinos reconheçam Israel como estado judeu e declarou que o lado leste de Jerusalém, o o “Bloco Ariel” (1) e o Vale do Jordão seriam anexados a Israel. Tendo escutado o que seu ministro da defesa diz ter oferecido a Yasser Arafat, e estando consciente do mapa que seu predecessor apresentou perante Mahmoud Abbas, fica difícil acreditar que o primeiro ministro pensa que pode encontrar um parceiro para o que ele tem em mente.

A obstinada resistência dos EUA a uma reconciliação entre Fatah e Hamas mostra que o presidente Barack Obama teme pelo futuro do campo pacifista palestino. Mas, em vez de mover o processo de paz em consonância com essa mesma obstinação, os Estados Unidos tem atacado o acordo sobre Shalit. Isso é muitíssimo mais fácil que pressionar Israel a transferir mais da área C (2) a Abbas, remove mais pedras no caminho e assegura que o congelamento na construção de assentamentos não é embuste.

Assassinar terroristas exilados não derrotará o Hamas, e impedir uma troca de prisioneiros não terá um impacto de longo termo na balança do poder dos territórios palestinos. O caminho correto para enfrentar o Hamas é criar uma política alternativa real a sua intransigente e violenta direção. Na ausência de alternativa assim, as operações a la filmes de James Bond, que a mídia estrangeira atribui a Israel faz com que este país pareça um vizinho assassino e desvia a atenção para o espectro do apartheid que bate à porta.

Tradução: Katarina Peixoto

(1) Segundo a ong Paz Agora www.peacenow.org , o termo Ariel Bloc “refere-se geralmente a uma área da Cisjordânia delimitada a leste por Ariel, ao norte pelo assentamento de Kedumim, ao noroeste pelo assentamento de Kamei Shomron e Ma'ale Shomron, e ao sul pelos assentamentos de Bet Arye e Ofarim. O 'bloco' resultante inclui também outros numerosos assentamentos: Nofim, Yaqir, Immanuel, Peduel, Alei Zahav, Brukhin, Barkan, Kiryat Netafim e Revava. Além disso, a área inclui ao menos 7 postos militares avançados ilegais construídos em sua maioria nos últimos anos. Deve se enfatizar que não há definição geográfica ou legal de um 'bloco de assentamentos'. Antes, o termo é uma maneira prática de descrever o resultado de uma política israelense de longa data de estabelecer assentamentos em cadeia em áreas contíguas próximas e, detpois, 'engrossar' os assentamentos com infraestrutura e construções para criar vários feixes de terra nos quais os assentamentos, e a infraestrutura ligando-os sejam características definidoras do entorno.

Contudo, diferentemente de outros assentamentos locaizados em grandes blocos – os quais estão geralmente próximos à linha verde – Ariel está localizado no coração da Cisjordânia. É por essa razão que os assentados têm gastado imensos recursos (especialmente depois da assinatura do Acordo de Oslo) para conectar Ariel com Israel e com outros assentamentos na área. Seu objetivo tem sido criar um bloco de assentamento suficientemente grande e suficientemente conectado a Israel que os assentamentos nele localizados seriam considerados imunes do dever de virem a ser evacuados. Ao mesmo tempo, eles têm trabalhado para conectar esse bloco com assentamentos distantes, na esperança de também imunizarem esses assentamentos de possíveis evacuações.” Para ler na íntegra: http://www.peacenow.org.il/site/en/peace.asp?pi=62&docid=1298 N.deT.

(2) Sobre a Área C, ver também: http://www.pazagora.org/impArtigo.cfm?IdArtigo=1143


Fonte Carta Maior

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