sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Polinter de Neves no Rio de Janeiro, uma masmorra medieval


'Masmorra medieval': carceragem da Polinter registra 56,7 graus

RIO, 12 de fevereiro de 2009 - Nem Gana, muito menos o deserto do Saara. O lugar mais quente do planeta fica a 60km do Centro do Rio: a carceragem da Polinter, em São Gonçalo, no bairro cujo nome é pura ironia: Neves. Por volta das 16h desta quinta-feira, os termômetros chegavam a registrar 56,7 graus no escuro das celas superlotadas, com cerca de 700 presos. Mesmo com dois aparelhos de ar-condicionado ligados, instalados de emergência. O calor era tanto que levou o delegado Orlando Zaccone, coordenador-geral de controle de presos da Polícia Civil, a admitir que o local precisa ser fechado imediatamente antes que um dos presos morra.

- Precisamos fazer alguma coisa urgente, caso contrário os presos vão começar a morrer de tanto calor. Isso aqui lembra uma masmorra medieval - disse Zaccone.

" Isso aqui lembra uma masmorra medieval "

A carceragem tem dez celas com cerca de 18 metros quadrados. Em cada uma delas estão confinados mais de 70 presos. As temperaturas foram medidas com um termômetro digital levado pelos repórteres do GLOBO, que entraram nas celas aproveitando a inspeção de uma equipe de promotores da Defensoria Pública estadual. Do lado de fora da carceragem, a temperatura média medida - quase no mesmo horário - pelo mesmo aparelho era de 37 graus ao sol.

- Nós temos no estado 17 carceragens com 3.500 presos no total. As celas de Neves e de Mesquita, na Baixada, são as que considero em pior situação para os presos. Como não há espaço físico para banho de sol, o ar não circula lá dentro, tornando o calor insuportável - disse Zaccone.

O promotor Denis Sampaio, coordenador criminal da Defensoria Pública, explicou que eles já estiveram diversas vezes em Neves.

- Impetramos várias ações civis públicas pedindo o fechamento da carceragem - disse o promotor Denis Sampaio.

O francês Pierre Equinet, que há 22 anos vive no Brasil e no ano passado passou a fazer trabalho humanitário numa ONG do Rio, ficou impressionado com as condições.

- Fiquei apenas meia hora lá dentro e quase derreti. A minha sensação era a de ter voltado ao século XVI, entrando no porão de um navio negreiro. É difícil acreditar que os presos com tanto calor estão conseguindo sobreviver.

Por Antonio Werneck

Fonte O Globo Online

Nota do Blog: No artigo "Polinter Grajaú: no inferno o Diabo respeita prazo?" , denunciávamos a bárbárie que lá se aplica, em 19 de fevereiro de 2009.

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