quinta-feira, 11 de março de 2010

De velas, vida e cais


De velas, vida e cais


Há uma tristeza infinita na Vida. Dessas, descarriladas nos vagões das noites, onde o vento assovia misturado ao uivo dos cães. Não é uma tristeza dizível, dessas que dissecamos em lágrimas para exorcizá-las. Não. É uma tristeza em cumulus nimbus que enegrecem o sol, apaga as estrelas ou qualquer luar boêmio, inundando as madrugadas.


A Vida está só. Só, de mim. Sente falta de meus risos, de meu sorriso, de meu olhar, e dos sons que faço quando liberto meus passos que desesperadamente focinham damas e calçadas, sem medo e sem destino, no breu dos becos ou na luz da Lapa, sem temer esquias sombras ou lâminas de um olhar vadio que escapa, nesses mares e amores.


Há, nela, uma tristeza voraz, que rosna, ruge e morde, numa convocação que presente não será atendida. E chora. Chora todas as horas que se perderam em minha demora. A Vida, é sempre jovem. E o tempo, passa.


Conheço a inexatidão do destino, que não comunga com indecisão de alma, nem com desapego de ser, de estar, de viver, de conviver, de rir, de chorar, de amar, de desamar, e amar, e bem amar, e mal amar, e mais amar, até o esgotar fênico do amor, mesmo que seja para morrer de amor.


A Vida está doída de minha ausência, da ausência desse amor que vive em mim, que transborda de mim, que mina em mim enquanto vai minando meu interior. Sou como uma velha caravela, rotas velas, fazendo água por todos os bordos e estibordos, enquanto amarrada ao cais, a sonhar oceanos.


O Tempo me ancora. E, passa.


A Vida chora sem mim.


Eu, morro sem ela.



Paulo da Vida Athos

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